quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Henry Martyn: o turista que passou quinze dias em Salvador de 1805

Logo no início do século 19, precisamente em novembro de 1805, dois anos antes da chegada da corte da rainha “louca”, Dona Maria I, e do príncipe regente, Dom João, a Salvador, e 27 anos antes da passagem do naturalista inglês Charles Darwin pela Bahia, um navio de bandeira inglesa que estava de viagem para a Índia pela mesma rota de Pedro Álvares Cabral aportou em Salvador por quinze dias. Um dos passageiros, de 24 anos, formado em matemática em Cambridge e ordenado ministro anglicano três anos antes, desceu do navio e foi conhecer a terra ensolarada que estava à sua frente. Chamava-se Henry Martyn e, à semelhança dos franciscanos que vieram com Cabral, ia para a Índia na qualidade de missionário.

Em terra, o jovem se encontrou com pessoas importantes e alguns sacerdotes católicos, com os quais conversou em francês e latim. Certo dia, foi parar na casa de um senhor de escravos muito educado, cujo filho, Antonio José, havia estudado numa universidade portuguesa. Por terem ambos formação superior, Martyn na Inglaterra, e Antônio em Portugal, os dois tinham muita coisa em comum e fizeram vários passeios juntos. A essa altura, Salvador, a antiga capital do Brasil, tinha 45 mil habitantes e muitas igrejas já haviam sido construídas. A mais antiga seria a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, erguida em 1636. A mais luxuosa só poderia ser a Igreja e Convento de São Francisco, cujo interior é todo revestido de talha dourada, razão pela qual é até hoje conhecida como a “igreja de ouro”.

Naquele pequeno espaço, hoje denominado Centro Histórico, o jovem missionário viu muitas cruzes e muita gente fazendo o sinal da cruz sobre o peito. Defronte ao colégio dos jesuítas, onde estava um dos mais antigos pelourinhos do Brasil (instrumento onde os escravos e os condenados eram submetidos à vergonha pública e ao açoite), havia uma grande cruz fincada no chão (o lugar hoje se chama Pelourinho e a dita cruz ainda está lá).

Desde que havia deixado a Inglaterra, quatro meses antes (17 de julho de 1805), Henry Martyn anotava num diário todas as suas impressões de viagem. No dia 12 de novembro, ele escreveu algo que pode ser interpretado como um dos mais bem escritos e substanciosos desafios missionários: “Que feliz missionário será enviado para proclamar o nome de Jesus a estas regiões ocidentais? Quando será que esta linda terra se libertará da idolatria e do cristianismo espúrio? Cruzes existem em abundância, mas quando a doutrina da cruz será pregada?”.

Naturalmente, o registro de Martyn é uma crítica ao cristianismo até então existente no Brasil. A cruz, o mais apropriado e conhecido símbolo cristão, estava aqui, nas igrejas, nos hospitais, nas escolas, nos morros, nas casas, nas vestimentas clericais, no peito, nos brincos e até na constelação do Cruzeiro do Sul. Contudo, a cruz sem a doutrina da cruz apenas cristianiza -- não evangeliza. Espiritualidade nominal e apenas aparente não resolve nada. Protestantes e católicos reconhecem esse fato e nos últimos anos não estão evangelizando unicamente os não-cristãos, mas também os próprios cristãos. Referindo-se a esse esforço evangelístico, os protestantes usam mais a expressão re-evangelização, e os católicos, nova evangelização, -- o que dá no mesmo. Nesse sentido, Henry Martyn foi um corajoso pioneiro. Suas palavras têm muito mais valor quando nos lembramos de seu patrício, contemporâneo e colega de ministério na Índia, William Carey (1761-1834), conhecido como “o pai das missões modernas”, por ter escrito, em 1792, treze anos antes da passagem de Martyn pela Bahia, o livro “Investigação sobre a Obrigação dos Cristãos de Empregar Meios para a Conversão dos Pagãos”. Enquanto um falava em evangelizar os pagãos, outro falava em evangelizar os cristãos. Curiosamente, Martyn não foi enviado oficialmente à Índia como missionário entre os nativos, mas como capelão da Companhia da Índia Oriental, embora tivesse dado uma grande contribuição à evangelização dos indianos.

Depois de levantar âncoras da Baía de Todos os Santos, o navio em que Martyn estava gastou mais seis meses para chegar a Calcutá, ao nordeste da Índia (21 de Abril de 1806). Se havia idolatria na Bahia, na Índia, a terra de milhares de deuses, a coisa era incomparavelmente pior. Ao ver homens e mulheres se prostrarem diante de uma imagem escabrosa, o expansivo Martyn anotou no celebre diário: “Eu tremi, como se estivesse de pé nas redondezas do inferno”. Além de ministrar para soldados e residentes ingleses em Calcutá, Dinapore e Cawmpore, por quatro anos e meio, Martyn pregava fluentemente no dialeto hindustani para os nativos. Sua pregação era tão atraente que ele costumava ter 800 pessoas em seus auditórios. Por causa de sua extraordinária capacidade linguística, em menos de um ano o jovem capelão traduziu para o hindustani (fevereiro de 1807) parte do “Livro de Oração Comum”, dos anglicanos, e o “Comentário sobre as Parábolas”. No ano seguinte, completou a versão do Novo Testamento (março de 1808). Pouco depois, apesar de doente, Martyn fez uma revisão da versão persa do Novo Testamento (fevereiro de 1812). Seu último trabalho foi a tradução dos Salmos para o persa. O agravamento de seu estado de saúde impediu que Martyn entregasse pessoalmente ao rei da Pérsia (hoje Irã) um exemplar do Novo Testamento em sua língua, o que foi feito por Sir Gore Onseley, o ministro britânico. Embora não desejasse voltar à pátria por causa de seu trabalho, Martyn foi obrigado a mudar de ideia para tentar se curar de uma tuberculose. Porém, não conseguiu chegar até a Inglaterra. Depois de viajar cerca de 2.400 quilômetros a cavalo, da Pérsia à Turquia, o rapaz de 31 anos morreu em Tocat, na Turquia Asiática, no meio de desconhecidos (16 de outubro de 1812). Em 1823, onze anos depois, um inglês residente em Bagdá erigiu um monumento sobre o túmulo de Martyn com os seguintes dizeres: “Ao rev. Henry Martyn, um pastor e missionário inglês, servo piedoso, versado e fiel, que, voltando à sua terra natal, o Senhor o chamou para sua alegria eterna”.

Porque a moça com a qual desejava casar (Lydia Grenfield) era uma inglesinha indecisa que não lhe dizia sim nem não, Henry Martyn viveu e morreu solteiro.

Meio século depois do desafio de Martyn, missionários evangélicos e americanos começaram a chegar ao Brasil, juntando-se aos episcopais e luteranos que já estavam aqui: Robert Kalley, em 1855; A. G. Simonton, em 1859; Junius Newman, em 1868; e a dupla William Bagby e Zacarias Taylor, em 1882. Esses missionários organizaram no Brasil, respectivamente, as quatro denominações históricas mais conhecidas: congregacional, presbiteriana, metodista e batista.

Os que chegaram mais perto do clamor do anglicano Henry Martyn foram os batistas: depois de permanecerem algum tempo na colônia americana de Santa Bárbara e em Campinas, São Paulo, para aprender a língua, Bagby e Taylor começaram a orar pedindo a direção de Deus quanto à região onde deveriam iniciar o trabalho missionário. Passando por Barbacena, em Minas Gerais, eles puseram o mapa do Brasil e os joelhos no chão do quarto de hotel onde se hospedavam e oraram ao Senhor. Ao se levantarem, estavam decididos a se fixarem em Salvador, a maior cidade brasileira na época, com 250 mil habitantes, e onde havia uma igreja para cada dia do ano. Se não tivesse morrido, Martyn seria então um velho de 101 anos!

Texto do artigo de capa da revista ultimato de Janeiro de 2010

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Quem é o seu proximo?



As frases a seguir são trechos de uma musica que faz algum tempo me enviaram por email. E que chama a atenção para um mal que assola a sociedade globalizada.

“Mais eu “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em Itaquera...


Mas se o assalto é em Moema
O assassinato é no “jardins”...
Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa...

E eu que sou bem informado concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal...”

(musica de Max Gonzaga)

Vivemos um período cravado por desastres, temos nossos deslizamentos de terra aqui mesmo em nosso país, mas o assunto da hora é a tragédia do Haiti, um terremoto terrível que vitimou muita gente, e um país que a muito vem sofrendo.

Você se lembra da parábola do bom samaritano, em Lucas 10:25-37, não quero aqui fazer um estudo bíblico, mas levantar algumas perguntas. Por que Jesus usou um samaritano como bem feitor? Por que passaram um sacerdote e um levita na historia sem ajudar? Para quem Jesus estava respondendo uma pergunta de amor ao próximo, através de uma parábola?

O grupo dos fariseus era formado basicamente de sacerdotes e levitas, eles eram homens cheios de si, e que se julgavam acima de qualquer possibilidade de correção. E a parábola era justamente uma repreensão direta a estes homens, pois nesta história o herói era aquele que para a sociedade, era uma pessoa desprezível. Os próprios fariseus instigavam no povo o ódio pelos samaritanos, e o ensino de Jesus, dizia a eles, o próximo é qualquer um que precise de você, sem distinção de raça, aparência, religião, ou classe social.

Longe de mim querer comparar alguém com fariseus hoje, isto não é meu objetivo. Meu objetivo é levantar um pensamento, será que estaríamos nos lembrando da tragédia no Haiti, se não tivesse morrido neste terremoto, a tão famosa Zilda Arns, criadora da pastoral da criança, brasileira candidata ao Nobel da Paz, irmã do arcebispo de uma das maiores e mais famosas dioceses do brasil. Não é a primeira catástrofe que ocorre no Haiti houveram varias “catástrofes”, de quantas delas nos lembramos, será que só estamos nos lembrando do que a mídia aponta. Tudo que vemos no jornal é resultado de algumas entidades chamadas de agencias de noticias, eles é que fornecem o conteúdo dos nossos telejornais, muitas vezes baseados no que dá mais audiência.

Qual a sua fonte de informação, você se preocupa com o que escuta, pensa de forma a diferenciar o que é verdade e o que é sensacionalismo. O que aquele fariseu queria com sua pergunta era gerar uma noticia sensacionalista, a respeito do mestre. Não adianta lacrimejar no sofá, com as imagens tristes do telejornal. O que podemos fazer de efetivo por um planeta melhor e mais humano, qual sua ação social como cristão, ação social e praticar o amor ao próximo.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Refletindo Sobre o Dia a Dia



Se em minha vida não ajo como filho de Deus,
fechando meu coração ao amor,
Será inútil dizer: PAI NOSSO.
Se os meus valores são representados pelos bens da terra,
Será inútil dizer: QUE ESTAIS NO CÉU.
Se penso apenas em ser cristão por medo,
superstição e/ou comodismo,
Será inútil dizer: SANTIFICADO SEJA O TEU NOME.
Se acho tão sedutora a vida aqui,
cheia de supérfluos e futilidades,
Será inútil dizer: VENHA A NÓS O SEU REINO.
Se no fundo o que eu quero é
que todos os meus desejos se realizem,
Será inútil dizer: SEJA FEITA A SUA VONTADE.
Se prefiro acumular riquezas,
desprezando meus irmãos que passam fome,
Será inútil dizer: O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAÍ HOJE.
Se não importo em ferir, injustiçar, oprimir e magoar
aos que atravessam o meu caminho,
Será inútil dizer: PERDOAI AS NOSSAS DÍVIDAS,
ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS OS NOSSOS DEVEDORES.
Se escolho sempre o caminho mais fácil,
que nem sempre é o caminho de Cristo,
Será inútil dizer: E NÃO DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO.
Se por minha vontade procuro os prazeres materiais
e tudo o que é proibido me seduz,
Será inútil dizer: LIVRAI-NOS DO MAL ...
Se sabendo que sou assim, continuo me omitindo
e nada faço para me modificar,
Será inútil dizer: AMÉM.
Que o Senhor Jesus nos inspire para a construção de um mundo melhor ...
(Texto com adaptações de Eliná Belizário.)

Aplicação: Observando o contexto da oração dominical em Mateus 6:5-8 percebemos que a intenção de Jesus, é apresentar um modelo de oração diferente daquela que o gentio vinha praticando. Aquele modelo de oração Jesus chama de hipocrisia “E, quando orardes, não sereis como os hipócritas...;” (v. 5), e posteriormente ele diz: “...não useis de vãs repetições, como os gentios...;” (v. 7), e ainda: “Não vos assemelheis, pois, a eles...; (v. 8).
A reflexão acima com as adaptações feitas pela irmã Eliná, nos alerta para o fato de observarmos se não estamos fazendo exatamente o contrário do ensino de Jesus; pois a nossa conduta reflete o que está em nosso coração e mente.
Nós estamos no início do ano 2010 e certamente estaremos fazendo a oração que Jesus nos ensinou muitas vezes, então precisamos observar que Jesus estava proferindo o Sermão da Montanha que era composto de vários ensinamentos, e entre os quais estava o novo modelo de oração. A circunstância do Sermão da Montanha era a chegada do novo reino, uma nova ordem religiosa e espiritual estava sendo implantada por Jesus, e naquele ponto do referido sermão Jesus abre um parêntese para falar da oração.
O grande propósito de Jesus é o de nos advertir para que as nossas atitudes não sejam farisaicas, pois os fariseus demonstravam ser uma coisa e vivia outra, julgavam que tudo se resumia nas próprias atitudes.
A Oração Dominical esboça uma vida que reconhece Deus e o adora, reconhece que tudo vem de Deus, daí a petição, e por fim reconhece que é pecador, mas está disposto a pedir perdão na mesma proporção que está pronto a perdoar.
Que a oração Dominical faça parte da nossa vida, mas levando-nos a refletir no nosso dia a dia se de fato estamos sendo coerentes com o que oramos a Deus. Tenham todos uma semana agradável e abençoada. (Rev. Reginaldo Costa Santos)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Presbíteros ou deputados

Qual a função de um presbítero na igreja? O sistema de governo presbiteriano, é uma democracia representativa, que quer dizer que elegemos representantes que governam a igreja. Atenção: os presbíteros não são eleitos para governar por nós, e sim para nos guiar segundo a palavra de Deus.
Daí a diferença, pois deputados são nossos representantes no governo, em uma democracia representativa, e lá, eles determinam as leis que são de interesse do povo, ou pelo menos, deveria ser assim se não fosse a corrupção, as propinas e mensalões, etc. a função dos deputados governadores e do presidente da republica, é usar o poder que emana do povo através do voto, para o beneficio do povo.
Na igreja apesar de seguirmos o mesmo modelo de democracia, embora tenha algumas diferenças em suas funções, os presbíteros, “que são os representantes eleitos que governam a igreja” não governam para o povo, antes eles devem governar para Deus. Quando um presbítero toma uma decisão, ele deve levar em conta o que a bíblia ensina, e não o que o povo quer, é claro que é importante ouvir a congregação, mas esta, não pode falar acima da palavra.
No nosso trato cristão devemos ser como presbíteros, e não como deputados, o cristão não molda suas decisões pelo que o povo, a mídia, o mundo, ou os amigos querem, mas como a bíblia lhe ensina. O que comanda sua vida, o mundo ou a palavra.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

qual o objetivo dete blog


Ola caros internautas, este blog tem por objetivo trazer informação relevante para todos aqueles que navegam na web. Porem sabemos, que os interesses são diversos e por isso não agradaremos a todos, mesmo porque, este não é o nosso objetivo.
A busca deste blog é levar conhecimento e um cristianismo simples, mas que tenha conteúdo, para que tanto eu que escrevo como você leitor alcance crescimento na palavra, e não somente absorver conteúdo, mas despertar nossas mentes para a melhor forma de ver o mundo, através dos olhos de Cristo.
Espero que vocês possam me ajudar, a estar sempre atualizado sobre o que acontece no meio cristão, e principalmente no distrito federal, para que possamos nos concentrar em escrever sobre o que está sendo necessário esclarecer em nosso meio cristão. Este blog não tem o objetivo de ser teológico, ou promover discussões em alto nível acadêmico, mas antes disso comentar nossa vida pratica e como o ensino bíblico pode nos ajudar nesta vida pratica.

Qual o Papel do Crente e de Deus na Santificação? John F. MacArthur Jr.

Alguém falou a certo pastor: "A Escritura afirma que 'Não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim'. Não temos que fazer nada por nossa santificação, mas simplesmente nos rendermos a Deus e deixarmos que Ele faça tudo".
Na verdade esta pessoa estava refletindo o ensino de um movimento nos Estados Unidos, chamado "Vida Mais Profunda" (deeper life), o qual afirma que, para se vivera vida cristã em santidade não se precisa fazer esforço algum, pois o poder deve vir de Cristo. Isso tem um pouco de verdade, mas exclui uma outra verdade igualmente importante: A Escritura exorta o crente a viver a vida cristã com esforço. Veja o que nos diz Hebreus 6:11-12 e 11. Pedro 1:5-7. Mas gostaria de enfatizar o que nos diz o apóstolo Paulo em Filipenses 2: "Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor. Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade."
Quietismo e Pietismo
O que aquela pessoa falou ao pastor sobre santificação é chamado de "quietismo". O quietismo afirma que o cristão deve ser passivo no crescimento espiritual. Devemos deixar que Deus faça tudo, pois nosso frágil esforço só faz atrapalhar a ação de Deus. Devemos apenas "render-nos" ao Espírito Santo, e Ele nos dará a vitória.
O oposto do quietismo é o "pietismo", que ensina que os crentes devem trabalhar muito e praticar uma autodisciplina extrema para conseguirem piedade pessoal. Devemos fazer estudos bíblicos enérgicos, ser auto-disciplinados, obedientes, diligentes para conseguirmos vidas santas. Mas não pára aí; adota padrões legalistas no seu modo de vestir, de comer, no seu estilo de vida, etc.
Muitos quietistas e pietistas concordam em que a salvação é pela graça, por meio da fé, mas a discordância deles é na área da santificação. Os quietistas desprezam o esforço do crente e arriscam-se a promover a irresponsabi1idade, a apatia espiritual. Os pietistas exageram o esforço humano e tendem a provocar o orgulho e a cair no legalismo.
Equilíbrio Adequado
Vejamos o que Paulo nos diz no capítulo 2:12-13 de sua carta aos Filipenses: "Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em, vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade."
No capítulo 12, Paulo fala como um pietista, que nós ternos de agir: "desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor...". No versículo 13 ele fala como um quietista: que Deus é quern age: "Deus é quem efetua em vós... ". Vemos aqui o perfeito equilíbrio, apesar de não compreendermos tudo completamente, pois o texto diz que devemos agir, mas na verdade é Deus que está operando em nós tanto o querer como o efetuar. Paulo não se preocupa em dar explicações, mas simplesmente afirma os dois lados. Quem pode compreender a mente de Deus? Seus pensamentos são muito altos para nosso entender limitado (Is.55:9; Dt.29:29).
O mesmo problema existe no ensino bíblico sobre a salvação. O Evangelho exige um ato do homem no qual o pecador se arrepende e põe sua fé na pessoa e obra de Cristo. No entanto, a Escritura garante que a salvação é uma obra totalmente de Deus (Ef.18,9) e que Ele escolheu pessoas para a salvação antes da fundação do mundo (Ef. 1:4-5).
O mesmo se observa no ensino sobre a perseverança dos santos. Da mesma forma que a Bíblia exige "Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida ", ela nos garante que ninguém pode nos arrebatar das mãos de Deus (Jo.1O:27-29) e que ninguém pode nos separar do amor de Deus (Rm.8:33-35). A salvação está garantida, mas temos de perseverar.
Na questão da santificação vemos o esforço do crente unido ao soberano controle de Deus. Paulo exemplifica este ensino ao dizer em 1 Co. 15: 1O – "Pela graça de Deus sou o que sou; e sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã... " Aqui soa como quietismo, mas logo diz: "antes, trabalhei muito mais do que todos eles", agora soa como pietismo, e termina afirmando: "todavia não eu, mas a graça de Deus comigo." Isso é quietismo novamente. Paulo não estava defendendo nem o pietismo nem o quietismo, mas mostrando um perfeito equilíbrio entre Deus, o qual opera no crente, e o crente mesmo, que se deve esforçar por ser santo.
Ele nunca falou de sua santificação sem reconhecer ambos os lados. Dessa forma vemo-lo afirmando novamente, em CI.1:28-29, que se afadiga e se esforça segundo a eficácia que opera nele. "Afàdigo-me", no grego, é a palavra kopiao, que se refere ao trabalho cansativo, à exaustão. "Esforçando-me" no grego, é a palavra agonizomai, que significa agonizar, lutar, sofrer. Porém, completa: "Segundo a eficácia que opera eficientemente em mim ". Os crentes devem usar todas as suas energias para servirem ao Senhor com diligência. Ao mesmo tempo, tudo que se realiza em nosso íntimo é a obra de Deus.
Qual a nossa parte? Desenvolver a nossa salvação.
"Desenvolvei a vossa salvação". No grego é o presente do imperativo "esforçai-vos incessantemente para desenvolver a vossa salvação". Não é uma ordem dada a incrédulos mas a crentes. Não é, portanto, um esforço para se ganhar a salvação, pois esta é um dom de Deus. Mas é um chamado aos crentes para que se esforcem e sejam diligentes no viver santo (11. Co.7: 1; Ef. 4: 1). O sentido mais correto não é "trabalhem pela salvação", mas "trabalhem na salvação" em direção à consumação da fé, em busca da santidade.
Vamos ao texto de Fl.2:12. Aqui vemos 5 frases que nos ajudam a entender como desenvolver a nossa salvação. "Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor ".
1. "Assim, pois": Compreendam o exemplo que lhes foi apresentado. Essa expressão nos leva de volta a Fl.2:5-11, onde Jesus é apresentado como modelo de humildade, obediência e submissão. Ele é o nosso padrão de vida (1 João 16).
2. "Amados meus ": Entendam que vocês são amados. A Igreja de Filipos era uma igreja fiel, mas tinha problemas de orgulho e desunião e por isso Paulo dá ênfase na questão da unidade. Evódia e Sintique, duas mulheres, lideraram facções opostas uma a outra (FI.4:2,3). Porém, apesar de tudo, Paulo os amava e por isso os corrigia e chamava de "amados". Deus é assim, ama, tem misericórdia de nós, mesmo quando fracassamos no nosso processo de santificação.
3. "Como sempre obedecestes": Entendam o valor da obediência. A palavra grega traduzida por "obedecestes" (hupakouo), significa literalmente "atender à porta", ou "obedecer, como resultado de ouvir". Ou seja, submeter-se ao que se ouviu. Foi o que aconteceu com Lídia ao ouvir a pregação de Paulo. Ela atendeu ao apelo do Evangelho, converteu-se, foi batizada e passou a servir a Paulo e seus companheiros. O mesmo aconteceu com o carcereiro de Filipos. Eles atenderam à Palavra.
4. "Não só na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência": Entendam seus recursos e responsabilidades. Eles buscaram a santidade por conta própria, e esta é uma responsabilidade de cada cristão. O apoio de irmãos é importante, mas é fácil nos tornarmos dependentes deles. Certos crentes perdem a pureza e a santidade, quando perdem o apoio espiritual de alguém. Mas, quando Paulo exige que eles desenvolvam a santificação ("vossa salvação"), está dando a entender que, em Cristo, eles podiam viver em santidade, independentes de qualquer ajuda externa. Nós somos responsáveis por nossa vida espiritual.
5. "Com temor e tremor": Entendendo as conseqüências do pecado. O pecado traz conseqüências, e esta é a razão porque devemos andar em santidade com temor e tremor. A palavra grega para "temor" é phobos da qual se originou fobia. A palavra grega para "tremor" é tromos que originou a palavra trauma. Estas palavras falam de um saudável temor de ofender a Deus, temor de pecar, de desonrar a Deus, do colapso moral, de entristecer a Deus e assim trazer a correção divina. lsaías no cap.66.2, fala do temor que Lhe agrada – "O homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra". E no versículo 5 afirma: "Ouvi a palavra do Senhor, vós, os que a temeis".
Portanto, a santidade exige esforço, não é algo fácil, pois significa ter disciplina, seguir a Jesus, ser obediente à Palavra, exercitar os dons e avaliar as conseqüências do pecado. Mas um temor saudável a Deus nos motivará a buscar esta santidade que Ele requer de nós.
Qual a parte de Deus? Operar em Nós
Em FI.2:13 Paulo explica.- "Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade". É Ele que habita em nós e nos dá o poder de fazermos a Sua vontade. Não temos capacidade em nós mesmos, a nossa capacidade vem de Deus. (II Co.15). Em FI.2:13 vemos 5 verdades a respeito de Deus, que nos ajudarão a compreender o que Deus faz por nós na santificação.
1. A pessoa de Deus. "Deus é quem efetua em vós..." É Deus quem está envolvido com a nossa vida, com o nosso bem-estar espiritual. Ele habita em nós e quer que façamos o que Ele ordena. Nosso progresso espiritual não depende de nós, nem de nossas habilidades, nem da ajuda de outros crentes, nem dos pastores, nem mesmo de anjos. Mas é Deus quem opera em nós, realizando a nossa santificação. O mesmo Deus que nos conheceu de antemão, nos predestinou, nos chamou e nos justificou, é o mesmo que nos santifica e haverá de nos glorificar (Ri-n.8:3O). Que diferença dos deuses pagãos! Mas Deus nos acompanha e nos supre por toda a vida.
2. O poder de Deus: Operando. "É Deus quem efetua...". Esta palavra no original é energeo que se refere a uma energia ativa e produtiva. É um poder que opera o nosso progresso espiritual, a nossa santificação. Por isso estaremos seguros até o fim. "Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus" (FI.1:6).
3. A presença de Deus: Em nós. Deus opera em nós. Paulo diz, em Efésios 3:2O, que Deus "é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o Seu poder que opera em nós". Paulo não diz que Ele opera nos céus e sim em nós. Ele é a nossa suficiência. Aqui devemos lembrar que no V.T. os crentes adoravam no Tabernáculo, no Templo. Mas agora somos templo de Deus, pois Cristo habita no coração de cada crente. "Nós somos santuário do Deus vivente..." (11. Co.6:16). Ele está conosco, sustentando-nos, suprindo e fortalecendo a nossa santificação.
4. O propósito de Deus: O querer e o realizar. É Ele que nos impulsiona a querer e a efetuar, dá-nos tanto o desejo como a habilidade. A palavra "querer" no grego é thelo que significa intento e inclinação. Deus nos dá desejos santos, agradáveis a Ele. Como? Em primeiro lugar, Ele nos dá uma santa insatisfação para com a nossa natureza carnal e corrompida. Foi isso que fez Paulo dizer em Rm.7:14: "Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?". Em segundo lugar, Ele nos dá um desejo pelas coisas santas e puras. Isso vemos na biografia dos santos do passado e percebemos o quanto estamos longe desta dedicação a Deus. Em terceiro lugar, Deus nos dá o desejo de Lhe agradar, de causar-Lhe satisfação e isso resulta em um proceder santo.
5. A satisfação divina: Segundo a Sua boa vontade. A palavra grega traduzida por "boa vontade" é eudokia que significa satisfação ou agrado. Deus opera em nós para que façamos aquilo que Lhe agrada e satisfaz. Ou seja, desenvolver a nossa salvação com temor e tremor agrada a Deus. Somos muito queridos de Deus e quando fazemos aquilo que Lhe agrada, Ele fica satisfeito. Esta é a essência de qualquer relacionamento: queremos agradar a quem amamos. Queremos causar satisfação Àquele que perdoa as nossas iniquidades, resgata-nos da condenação eterna, coroa-nos com graça e misericórdia, enche de bens os nossos anos, de modo que a nossa mocidade se renova como a da águia (Sl. 1O3:3-5).
Vemos que há uma maravilhosa combinação entre os nossos esforços e os recursos, providenciados por Deus. Servimos a um Deus que nos dá poder para vivermos para Sua glória. Este é o mistério do Cristianismo: "Cristo em vós, a esperança da glória " (Cl. 1: 27)
Deus nos chama para vivermos vidas santas, mas é Ele quem nos santifica. Deus nos convoca a servi-Lo, mas, na realidade, é Ele mesmo que nos impulsiona a isso por meio do Seu próprio poder em nós. A obra é dEle, mas é nossa também. A glória, contudo, pertence, somente a ELE.
Soli Deo Gloria.
Extraído do Jornal "Os Puritanos" Ano IV – No. 4 – 1996

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Por que levamos a bíblia à igreja?

Sempre vemos falar sobre trazer a bíblia ao culto, dizem que aquele que não anda com a bíblia é um cristão relapso, sem compromisso. Uma das principais frases usadas para justificar esta prerrogativa é que a bíblia é a espada do cristão e que sem ela estamos desarmados, podemos dizer que isto vem da interpretação do texto de Éfesios 6:17 falando da armadura do crente onde a palavra é a única arma ofensiva que compõe a armadura, ou no texto de Hebreus 4:12onde fala do poder da palavra de penetrar os recônditos do ser, mas quando os dois textos foram escritos ainda não tínhamos a bíblia impressa que possuímos hoje, as escrituras eram grandes e pesados rolos que ficavam ou em bibliotecas ou nas sinagogas, então os textos tratam de usar o conhecimento da palavra e não o livro em si, como podemos ver no exemplo de Cristo no texto de Mateus 4:1-11, assim a palavra é espada quando com a mente aprendemos e no coração guardamos os seus ensinos.
Quando eu era adolescente falavam-me que devíamos andar com a bíblia como forma de demonstrar que não nos envergonhávamos do evangelho, e de andar com a palavra. Junto a isso me lembro do testemunho de um senhor que se convertera já com certa idade, em torno dos 40 anos, que falar que nunca havia carregado peso tão grande quanto o que sentiu pesar a sua bíblia, na primeira vez que passou carregando a bíblia frente aos amigos que noutro tempo o acompanhavam nas mesas dos bares. Será que este argumento é valido para os dias de hoje quando a maioria dos cristãos vai à igreja em seus automóveis, onde fica mais visível um adesivo no vidro do seu carro do que a bíblia que ele carrega.
Mas a razão esquecida de trazermos a bíblia a todos os cultos, tem seu principio nas atitudes dos cristãos de Bereia, que conferiam nas escrituras se o que era pregado era realmente verdadeiro. Tal pensamento foi renovado pelos reformadores no século XVI, onde um dos cinco pontos fundamentais era somente a escritura, só a palavra de Deus é regra de fé e pratica, Lutero teve como uma de suas principais tarefas traduzir a bíblia para a linguagem do povo, uma das lutas dos reformadores era que o povo tivesse acesso à bíblia para julgar o que está sendo pregado, e não aceitar qualquer coisa que esta sendo falado em nome de Deus, a bíblia na mão do crente é a via de comunicação de Deus com ele para ouvir e conferir o que esta sendo pregado, é para isso que andamos com a bíblia.